Em busca do ser psíquico

setembro 13, 2020 Off Por Maria do Carmo e Neusa Volpe

A vida se parece com uma floresta exuberante que somos chamados a explorar. Nela caminhamos sem rumo definido, realizando experiências variadas com diferentes graus de satisfação. Algumas podem nos entusiasmar bastante, mas como não possuem a plenitude que buscamos, prosseguimos. Dentre os caminhantes, alguns têm a felicidade de ouvir confusamente o som de uma melodia maravilhosa que os atrai em sua direção, outros vislumbram recantos banhados com uma luz desconhecida, que os convida a entrar.

Em ambos, a sensação de uma inexplicável plenitude e o desejo de permanecer neste lugar espaçoso e feliz que jamais sonharam encontrar. Este lugar é o ponto de passagem para nosso ser interior. Descoberto esse espaço ele revela progressivamente o ponto de iluminação que existe em todos nós, e tudo se modifica quando clareado por esta luz.

O ser psíquico

Sri Aurobindo e A Mãe usam usam o nome Ser psíquico ou psíquico para designar este ponto. E também o chamam de alma. A alma é a presença especial do Divino em nós. Quem a encontrou, não se pergunta mais se a vida tem sentido, porque esta evidência salta aos olhos. Este encontro nos coloca diante de quem somos e qual a nossa participação nessa grande manifestação chamada vida. Começamos a ver, como que pela primeira vez, o que realmente sintoniza ou não com nossa essência. É como se pela primeira vez soubéssemos, mesmo que parcialmente, quem somos, e qual é nosso papel no mundo.

É importante não confundir o ser psíquico com teorias e ensinamentos da Psicologia, embora se possam estabelecer comunicações significativas entre esses domínios. O ser psíquico é a centelha do Espírito no homem. Ele pode nascer do coração, como se um grande e antigo amor de lá chamasse. Ele pode nascer da mente em seu desejo insaciável de verdade. Pode parecer complicado, mas seu nascimento dá-se de forma tão espontânea como o abrir de uma flor.

As religiões e o ser psíquico

Em parte, através das religiões existentes em cada cultura o ser psíquico se expressou. Nelas sempre existiu um lugar específico para que o Divino fosse reverenciado e cultuado. Nesses lugares, entretanto, o fervor facilmente se aliou a credos, ritos e práticas que ressoavam no homem, mas projetavam o Divino como uma coisa exterior a sua humanidade, podendo exercer sobre ele um poder não libertador. Esta regra porém não foi absoluta, e em todas as religiões surgiram grandes santos, capazes de iluminar com sua de vida o caminho de encontro com o Divino.

O encontro com o ser psíquico, entretanto, não precisa dar-se através de religiões, pois ele é livre e está acima das convenções humanas e assim como a planta não precisa de nenhum manual para realizar sua semente, também não precisamos de nada que já não esteja em nós para encontrá-Lo. Uma vez realizado o encontro, retemos sua lembrança especial e, como já percorremos o caminho, fica cada vez mais fácil voltar a trilhá-lo.

A descoberta do psíquico produz mudanças em nossa vida

Surgem então mudanças em nós, pois enquanto a vida exterior se organiza como esforço para controlar, o ser psíquico nos pede entrega, uma entrega contínua. Poderemos, então fazer o que sempre fazíamos, mas o faremos de maneira nova, porque descobrimos uma perspectiva que modifica nossa compreensão e objetivos, uma perspectiva que ultrapassa nosso ser exterior, e a atitude mais sábia será então, a entrega ao guia maior.

Aspiração, entrega e purificação passam a fazer parte de nosso cotidiano, porque queremos descobrir sempre mais, esse aspecto feliz e livre que existe em nós. A Mãe nos diz que:

“Para quem se predispõe a empreender essa descoberta, não há nada que seja pequeno ou grande, todas as coisas são igualmente importantes e podem tanto apressar como retardar este sucesso.”
Caderno Especial de Ananda: A Mãe: Educação – Um Guia para o Conhecimento e o Desenvolvimento Integral de Nosso Ser. Belo Horizonte: Casa Sri Aurobindo, p.46.

Conselhos da Mãe

Tendo em vista o anseio de encontrar o ser psíquico, aí vão alguns conselhos da Mãe:

“Antes de comer, concentre-se por alguns segundos na aspiração de que o alimento que você está para ingerir possa trazer a seu corpo a substância que ele necessita para servir como uma base sólida para seu esforço em direção à grande descoberta, e dar-lhe a energia necessária para a persistência e perseverança no esforço.
Antes de dormir, concentre-se por alguns segundos na aspiração de que o sono possa restaurar seus nervos fatigados, trazer calma e quietude a seu cérebro, para que ao acordar você possa, com renovado vigor, recomeçar novamente sua jornada no caminho da grande descoberta.
Antes de agir concentre-se na vontade de que sua ação possa ajudar ou pelo menos não impedir de maneira alguma sua marcha para frente.
Quando você falar, antes das palavras saírem de sua boca, concentre-se o tempo suficiente para medir suas palavras e permitir que passem somente aquelas absolutamente necessárias, somente aquelas que não possam prejudicar de maneira alguma seu progresso no caminho da grande descoberta.
Em resumo, nunca se esqueça do propósito e objetivo de sua vida rumo a grande descoberta…”
Ídem p.47