
O Amor e o Divino
Há no coração de cada pessoa um desejo infindável de amar e ser amado. O amor vivido e o amor recebido não satisfazem essa carência. No amor existe uma ânsia de plenitude, de união e de perfeição que dificilmente se preenchem na relação humana. O amor conjugal revela isso de maneira enfática, porque nele convivem momentos inexplicáveis de plenitude e de frustração.
Nossa história de amor se inicia no centro de nosso pequeno eu, mas aos poucos vamos entendendo o amor como a alegria e o bem estar do outro. Gradativamente o desejo de proximidade e convivência triunfa sobre nosso egoísmo, e a capacidade de amar toma em nós proporções sempre maiores.

Na obra chamada Entretiens (La Mère, Entretiens , p. 249-249. Tradução de Ricardo Galindo em: O Caminho Ensolarado), um discípulo faz à Mãe uma pergunta sobre o amor pleno. A Mãe utiliza-se de um texto de Sri Aurobindo para respondê-la:
“…há escondido por trás do amor individual, obscurecido por sua ignorante forma humana, um mistério que a mente não pode saber, o mistério do corpo Divino, o segredo de uma forma mística do Infinito, ao qual só podemos nos aproximar por meio do êxtase do coração e pela paixão dos sentidos que foram purificados e sublimados; e sua atração, que é o chamado do divino Tocador de Flauta, a compulsão subjugadora do Todo-Belo, só pode ser capturada e nos capturar através de um amor e de um ardor ocultos que acabam por fundir em uma só a Forma e o Sem-Forma, e reconhecer a Matéria e o Espírito. É isso que o Espírito busca aqui embaixo na obscuridade da Ignorância e é isso que ele( Ele) descobre quando o amor individual se transforma no amor Divino imanente encarnado no universo material.”
La Synthèse des Yogas, vol. I, p. 177-78.
Sri Aurobindo é sempre complexo, mas a Mãe explica o texto, e o faz em referência ao casal mais famoso da mitologia hindu – Krishna e Radha. Eles representam duas personagens que vivem em nosso interior. Krishna é o Divino, todo amor, todo perfeição, presente em nós como Espírito. Ele procura nos atrair com o som de sua flauta, com ela o Divino Tocador nos chama para si. Radha é nossa alma individual, a criatura que escuta muito de longe o Tocador de Flauta.

Como todo casal, Krishna e Radha, desejam estar juntos. Krishna, o Espírito, tem consciência da presença de Radha e quer muito sua companhia. Radha, o ser humano, anseia por Ele, mas não sabe quem Ele é, e nem como encontrá-lo. Confusa, ela o buscará em todo amor, mas nenhum poderá satisfazer sua ânsia de um amor pleno. Tempos infinitos se passam e Krishna não cansa de chamar por sua amada e Radha nunca cansa de buscá-lo. Sem sucesso, Radha tentará um novo caminho. Ela que percorreu o mundo, prepara-se, purifica-se e vai agora pelo caminho interior. Nele descobre sua psique e seu espírito, e fica muito próxima de seu amado.
Sri Aurobindo diz para nós, que o amor pleno é possível e se realizará com certeza. Radha realiza esse sonho, mas quando isso acontece, Radha percebe que seu amado Krishna sempre estivera consigo. Descobre também que seu amado vive em todas as pessoas e criaturas do Universo. Entra então em êxtase porque agora ama o Todo-Belo em tudo. Seu amor encontra a plenitude que buscava e a eternidade não esgotará seu deleite.
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