A Criança Divina

A Criança Divina

dezembro 19, 2019 Off Por Maria do Carmo e Neusa Volpe

No Natal celebramos o nascimento da Criança Divina entre nós.

Os sábios védicos percebiam a presença desta Criança no interior de cada ser humano, percebiam a existência de um grande projeto realizando-se na Terra:

“A Sombra e a Luz, o Bem e o Mal preparavam um nascimento divino na Matéria. A Noite e o Dia, ambos amamentavam a Criança Divina.”

(Satprem: Sri Aurobindo ou A Aventura da Consciência, p 242)

O cristianismo também se fundou sobre esse “emergir luminoso” – Deus feito carne habitou entre nós.

Sri Aurobindo comenta em seu grande poema Savitri, o desejo de encontro entre Céu e Terra, simbolizando o desejo de unidade entre o Espírito e a Matéria. 

“O céu, em seu êxtase, sonha com uma Terra perfeita,

A Terra, em seu Sofrimento, sonha com um céu perfeito…

Enfeitiçados temores impedem sua unidade.”

(Savitri, v.29, p.684)

O homem e o universo sonham com este encontro. A Matéria sente, especialmente no Homem, esta luminosidade que avança progressivamente. Na caverna escura do corpo pulsa a presença da luz. Nascemos e renascemos porque é através dos sucessivos nascimentos que se faz em uma vida, ou em muitas vidas, que modelamos e purificamos o  corpo para que o Divino possa nele emergir. 

O nascimento da Criança Divina se dá como:

A vitória sobre as leis da Matéria pela Consciência na Matéria (…). A Terra é o lugar da Vitória e da perfeita realização (…), pois tudo está aqui, totalmente aqui, em um corpo: a Alegria, a Consciência, os Poderes Supremos (…).

(Satprem: Sri Aurobindo ou A Aventura da Consciência, p.241-242).

Para tanto, precisamos, segundo o autor, ter coragem de abrir os olhos e sonhar um sonho vivo, um sonho  que não foge para um paraíso celeste, mas busca sua realização no corpo e na Terra.

A magia do Natal subsiste porque está alicerçada em uma verdade profunda – O Divino habita em nós e quer nascer em nossa vida de superfície. Seu nascimento transforma todas as coisas. Ele é a Luz que brilha nas trevas. Olhado desta forma, o sentido do Natal se amplia e se torna uma festa de interioridade, porque lá dentro, escondido na gruta de nosso corpo, brilha a presença e o sorriso da Criança Eterna. Ressoa, portanto, com muita força em nosso coração, a história do nascimento do Salvador, o Menino Jesus que veio para iluminar o mundo há dois mil anos, porque ela não é apenas a história de um passado, mas refere-se a um presente vivo e atuante em nossas vidas.

Este é o maior segredo, o maior mistério e encanto do Natal – o Divino quis morar em nós. 

* Recomendamos que os textos do blog sejam lidos duas ou três vezes, se possível com intervalo entre as leituras. Percebemos que cada vez que retomamos um texto de Sri Aurobindo ou da Mãe, ele nos ensina algo que ainda não havíamos notado.