A alma de uma nação
Há uma alma no ser humano. Se tivéssemos a noção do que isto significa, com certeza a veríamos como o maior presente que já nos foi dado, e teríamos por ela o zelo de quem guarda o tesouro mais precioso.
A alma, segundo Sri Aurobindo, é o princípio espiritual, a lei interna que rege cada pessoa. O homem percebe sua presença, ainda muito embaçada, em sua personalidade de superfície, mas esta percepção pouco consciente o move gradativamente para torná-la cada vez mais presente em sua vida.
Isso acontece porque cada “indivíduo não é apenas uma criatura física efêmera, uma forma de mente e corpo que se agrega e se dissolve, mas um ser, um poder vivo da Verdade eterna, um espírito que se manifesta por si mesmo.”
O presente texto foi escrito tendo por referência o capítulo A descoberta da Alma da Nação, da obra de Sri Aurobindo. O Ciclo Humano. Obras completas de Sri Aurobindo, Vol 25. Pondicherry: Sri Aurobindo Ashram.
A Nação – alma
Surpreende que Sri Aurobindo não se refira somente à alma nas pessoas, mas também à alma nas nações, comunidades e sociedades, afirmando que cada nação possui uma alma, uma lei primordial e secreta que busca reconhecer e realizar. Pois, da mesma forma que um indivíduo, uma nação também é um poder vivo da Verdade eterna, uma automanifestação de um Espírito cósmico que busca cumprir uma verdade especial desse Espírito.
A alma em uma nação se expressa em aspectos subjetivos e objetivos que ao longo do tempo firmam sua identidade. Os aspectos objetivos, materiais, como economia e política, prevalecem em sua história; mas os aspectos subjetivos como a arte, música, literatura, arquitetura e filosofia marcam de forma expressiva a maneira de ser dessa nação. Seus aspectos objetivos ligam-se inicialmente à geografia, à terra em que se nasce, ao país, à pátria. Porém, diz Sri Aurobindo:
“Quando percebemos que a terra é apenas a casca do corpo, embora uma casca muito viva e potente em suas influências sobre a nação, começa-se a sentir que seu corpo mais real são os homens e mulheres que compõem a unidade nação…, estamos então a caminho de uma consciência comunal verdadeiramente subjetiva.”
Ídem.
A Nação – corpo e força
A nação é também um corpo dinâmico dotado de uma força, de um desejo de expansão e realização. De início, esta força que se assemelha ao ego humano, tem por referência seus próprios interesses. Seu olhar sobre as outras oscila entre o desejo de explorá-las e o temor de ser por elas ameaçada. Por se interpretar de forma ainda muito ignorante as nações buscam defender sua identidade e seus interesses, pondo-os acima dos de outras. Acreditam que podem sobrepor-se a outras nações através dos armamentos e de uma lógica de guerra, que embora tenha força pelos estragos que pode causar, espanta por revelar o estado primitivo em que a consciência do homem se encontra.
A Paz
Ouve-se dizer com freqüência: quem quer a paz deve preparar-se para a guerra. Esta animosidade têm dificultado o reconhecimento e o respeito que se deve a peculiaridade de cada nação, bem como às relações amistosas e colaborativas entre elas. Tem-se tentado, mas tanto os indivíduos como as nações, pouco descobriram da alegria e do desafio presentes em relações efetivas e complementares.
Este é, segundo Sri Aurobindo, um passo que nos aguarda no ciclo humano e que permitirá conciliar a alma de cada nação com a unidade da comunidade humana. Esse é um passo do Espírito, porque o Espírito é universal e unificador. Enquanto o ego visa reduzir a si, o Espírito se alegra na diferença e percebe que possui uma força maior quando reúne pessoas e nações em comunidades solidárias.
Quem sabe fosse interessante reconhecer a bandeira branca da paz. O branco tem a propriedade única de manter e reunir todas as cores. Quem sabe a crise que vivemos nos ensine a dar um passo em direção a paz que não elimina o outro homem ou nação, mas os compõe em uma unidade que mantém a todos e lhes dá também uma cor nova.
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Educação de Si – Educação do Outro
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