A ação do Ioga em nós (parte II)

agosto 30, 2020 Off Por Maria do Carmo e Neusa Volpe

No post anterior, A ação do Ioga em nós (parte I), vimos que o Ioga é um processo desenvolvido para nos elevar da Natureza inferior à Natureza superior.

O que significa a Natureza superior

Elevar-se a Natureza superior significa, segundo Sri Aurobindo, ser:

Mais puro

O Ioga visa nos transformar em espelhos vivos do Divino, nos tornando límpidos e diamantinos, seres centrados que permitem progressivamente a reflexão do Ser divino.

Mais livre

Porque ultrapassamos as limitações de nosso ego, rumo a Verdade do Ser divino e de sua Lei maior, mais flexível e mais dinâmica, que passa a atuar nas condições de nossa vida exterior.

Mais beatífico

Alcançar o Ser Divino nos inunda de alegria, porque o percebemos colorindo e valorizando o mundo com Sua presença, mas também porque o Ioga nos permite experimentar essa alegria em dimensões que transcendem as do mundo atual.

Mais perfeito

O Ioga Integral, que como já explicamos não visa a realização fugindo ao mundo, traduz a existência espiritual às condições físicas e mentais de nosso ser. Visa aperfeiçoar, e não anular o que somos agora.

O que significa elevar-se a Natureza superior

A ação da Natureza superior ao trabalhar na Natureza inferior

Existem algumas peculiaridades na ação da Natureza superior ao trabalhar integralmente na Natureza inferior.

Cada ser humano nesse caminho tem seu próprio método de Ioga

Em primeiro lugar, ela não age conforme um sistema fixo e uma ordem imutável. Sua ação é livre, espalhada, e, no entanto, cada vez mais intensiva e intencional, determinada pelo temperamento do indivíduo em que opera, os materiais favoráveis que sua natureza oferece e obstáculos que ela apresenta para serem purificados e aperfeiçoados. Em certo sentido, portanto, cada ser humano nesse caminho tem seu próprio método de Ioga.

Tudo em nós é tomado pelas mãos de um Artífice poderoso

Em segundo lugar, visto que o processo é integral, este Ioga aceita nossa natureza tal como nossa evolução passada a organizou e, sem nada rejeitar de essencial, obriga-a, em sua totalidade, a passar por uma mudança e divinizar-se. Tudo em nós é tomado pelas mãos de um Artífice poderoso e transformado na imagem clara daquilo que nossa natureza atual busca confusamente representar.

Nessa experiência de progresso sem fim, começamos a perceber como essa manifestação inferior é constituída e descobrimos que tudo nela, por mais desfigurado, mesquinho e vil que seja em aparência, é a imagem mais ou menos distorcida ou imperfeita de algum elemento ou de alguma atividade na harmonia da Natureza divina.

Todas as experiências tornam-se etapas no caminho da perfeição

Em terceiro lugar, o Poder divino em nós utiliza toda a vida como meio para esse Ioga integral. Toda experiência, todo contato exterior com o mundo circundante, por mais insignificante, por mais desastroso que seja, é utilizado para o trabalho, e toda experiência interior, mesmo o sofrimento mais repugnante ou a queda mais humilhante, tornam-se etapas no caminho da perfeição.

Então, com olhos abertos reconhecemos em nós o método de Deus no mundo: trazer luz na obscuridade, o poder na fraqueza e na queda, a felicidade na dor e na miséria. Vemos que o método divino é o mesmo na obra inferior e na superior. Só que em uma ela prossegue obscuramente e sem pressa, através do subconsciente na Natureza; e na outra, torna-se rápido e consciente, nela o instrumento admite a mão do Mestre.

Toda vida é um Ioga da Natureza buscando manifestar Deus em seu interior. Ioga marca a etapa em que esse espaço pode se tornar capaz de autopercepção, e, portanto, alcançar sua completude justa no indivíduo. É uma reunião e concentração dos movimentos dispersos e combinados desordenadamente na evolução inferior.

Esta possibilidade é apresentada a todos, cabe-nos reconhecê-la e nos entregar por inteiro a ela.

Referência bibliográfica: Sri Aurobindo. A Síntese dos Iogas. Introdução. A tradução desta obra, publicada parcialmente pela Casa Sri Aurobindo, está sendo efetuada para o português. Nos absteremos de colocar as citações entre aspas, uma vez que o texto todo é cópia integral ou ligeiramente modificada da obra acima citada.